Recebi a reportagem da minha professora de enologia e amei. Posto no blog o Texto de Roberta Sudbrack (26/07/2011)
Esse se tornou um dos bordões mais citados no twitter quase sem querer. Quem acompanha o meu dia a dia na cozinha vira e mexe se depara comigo descrevendo alguma situação do nosso dia a dia e fazendo essa pergunta: Quer ser cozinheiro? Hoje reli um texto que escrevi há algum tempo falando justamente sobre isso e resolvi reeditar. Porque como Chanel, os clássicos nunca saem da moda. E se no final do texto você quiser me perguntar se eu faria tudo outra vez? Faria! Quantas vezes fosse preciso, mas eu já decidi e você? Se ainda não, aí vão algumas dicas que podem ser muito úteis!
Se você decidiu que o seu caminho definitivamente vai dar numa cozinha. Se isso é realmente um ideal e não um meio de vida. Se essa é realmente a sua vontade acima de qualquer coisa, aceite alguns conselhos de quem já esteve nesse lugar:
Não mande currículos para todos os lugares de uma vez. Escolha o tipo de cozinha que mais te encanta, a filosofia de trabalho que mais te seduz e o chef que você mais admira. Mande o seu currículo primeiro para esses lugares. Encare o sonho de trabalhar nesse lugar como um ideal. Não tem nada mais desagradável do que alguém que atira para todos os lados. Normalmente esses não sabem o que querem e isso fica nítido mesmo antes da primeira entrevista. Se é que ela vai acontecer…
Não desista nos primeiros obstáculos, insista, mande cartas, se expresse, se debata, ligue, tente até as últimas conseqüências! Nós já estivemos no seu lugar e certamente teríamos feito o mesmo.
Não escreva no campo profissão do seu currículo: Chef de cozinha. A não ser que você esteja exercendo esse cargo em alguma cozinha. Mas, se estivesse, por que estaria enviando currículos? Nós somos cozinheiros! Podemos “estar” chefs de cozinha se estivermos exercendo essa atividade dentro de uma cozinha profissional. Ainda assim, somos cozinheiros. Ninguém sai da faculdade, por mais que erroneamente esteja escrito no diploma, com esse título. Isso é um cargo, não é uma profissão!
Jamais escreva no campo expectativas do seu currículo: Subchef. Esse cargo é um caso de amor, de conquista, vitórias e suores! Um dos nervos mais vitais e sensíveis nesse sistema nervoso central! Onde o relacionamento é repleto de cumplicidade, harmonia, confiança e doação. É um cargo que se conquista, e conquista requer conhecimento. Quem é você para chegar querendo ocupar esse lugar?
Jamais defina o que você imagina ser o mais acertado para você: “eu não acho justo começar como assistente. Acho que mereço pelo menos o cargo de primeiro cozinheiro.” Pelo amor de Deus, comece onde quer que o trem pare! E se não parar, pule nele mesmo se estiver em movimento, mas não se esqueça de pular com delicadeza para não incomodar os que já estão dentro. Se começar na área de lavagem, faça dela a mais limpa e organizada do planeta e garanta o seu passaporte para a próxima viagem. Um dos meus melhores cozinheiros começou como vigia da casa e quando chegou à área de lavagem me mostrou do que seria capaz em questão de minutos.
Comece com delicadeza, desde o primeiro contato, até o momento em que colocar os pés no sagrado chão da cozinha.
Não menospreze quem te entrevista: “Não vou falar com o Chef? Não acho que vocês têm capacidade de me avaliar”. É certo que quem está te avaliando já foi avaliado pelo Chef…
Não acredite que você sabe tudo, não tem nada pior, e normalmente quem acha que sabe tudo não sabe quase nada. Além do mais, seja lá o que quer que você saiba, terá que deixar do lado de fora e aprender tudo de novo. Quando se entra numa cozinha que já estava em funcionamento não se deve ter a pretensão de acreditar que se sabe alguma coisa, tudo pode e deve ser novo, tudo pode e deve ser aprendizado. Tudo é crescimento.
E por último, se a humildade não é uma qualidade que lhe cai bem, por favor, desista dessa parada, salta na próxima.
Quer ser cozinheiro?
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